domingo, 10 de maio de 2009

Recursos Educativos Abertos - REA

Muitas são as razões que levam os estudantes a desistirem dos seus cursos, uma delas é custo elevado dos livros escolares. Nos países em desenvolvimento, o fornecimento adequado de livros defronta-se com problemas tais como: falta de moedas firmes e ou fraqueza de moeda local; equilíbrio de fornecimento entre os livros produzidos localmente e os importados; demora desnecessária devido a problemas de transporte; etc. Estes problemas têm contribuído para o aumento dos preços dos livros. Muitos dos países em desenvolvimento dependem muito da ajuda estrangeira para as suas necessidades básicas na educação o que pode contribuir para o aumento dos custos dos livros e materiais escolares.
O post An everyday OCW story from South Africa - vem de encontro ao que foi referido por mim anteriormente. Karen Wallace é uma professora da University of the Western Cape, que lecciona o curso de química. Este curso exige aos alunos a compra de dois livros. A professora Karen sabe que os seus alunos apenas terão dinheiro para comprar um dos livros, por isso, elaborou um conjunto de materiais didácticos com as temáticas contidas nos livros. Estes materiais foram passando de estudante para estudante e foram modificados continuamente ao longo do processo de aprendizagem, fazendo com que a qualidade dos mesmos aumentasse.
Geralmente, as instituições educacionais nos países em desenvolvimento, não têm recursos financeiros para o desenvolvimento em grande escala de materiais didácticos. Se todas as instituições contribuíssem um pouco na partilha de recursos didácticos, essa colaboração iria contribuir para o desenvolvimento de um conjunto de materiais. Permitindo assim o alcance de grandes avanços. Esta é a filosofia do Recursos Educativos Abertos. No meu primeiro post Juliet Stoltenkamp fala sobre os OpenCourseWare e tenta incentivar os professores, neste caso a professora Karen Wallace, a publicar todo o material criado para o seu curso de química. O objectivo de Juliet Stoltenkamp é fazer com que Keren Wallace perceba a importância da partilha dos seus recursos educativos. Mas esta professora tem dúvidas em relação às vantagens da partilha dos seus materiais didácticos. Ela sabe que a partilha e o trabalho colaborativo são uma mais-valia para obter melhor conteúdo educacional.
São muitos os professores nas universidades que ainda têm receio de partilhar os seus próprios recursos, muitos deles não sabem a importância, as potencialidades que os Recursos Educativos Abertos podem oferecer. A utilização dos Recursos Educativos Abertos vai permitir a existência de uma grande troca de conhecimento. Estamos perante uma sociedade e uma economia baseada na partilha e difusão do conhecimento, isto representa uma oportunidade para os países em desenvolvimento. Como exemplo posso referir o estado indiano de Kerala (tem um nível de desenvolvimento humano que se aproxima dos países do Norte). Muitos são os países que estão a “crescer”, tal como o estado indiano de Keral, com base no conhecimento e na inteligência. No futuro, o potencial de desenvolvimento de uma sociedade vai depender menos da sua riqueza natural do que da sua capacidade de gerar, partilhar, difundir e utilizar o conhecimento. Este conhecimento deve estar ao alcance de todos, ninguém deve ser excluído numa sociedade do conhecimento. Para isso as sociedades têm de investir muito na educação para todos. A possibilidade de troca ou partilha de conhecimento aumenta muito com a utilização, nas universidades dos Recursos Educativos Abertos.

A professora Karen Wallace está com dúvidas em relação à partilha de materiais, será que ao partilhar os seus materiais ela receberá apenas comentários sobre melhorias em relação a esses materiais, ou conseguirá que essas pessoas se comprometam nesse mesmo processo? O OpenCourseWare deveria fazer parte das nossas práticas educativas e não ser mais um esforço extra. Mas na verdade estamos muito longe disso, algumas instituições ainda não estão preparadas para este novo conceito. A University of the Western Cape já tem alguém responsável por transmitir aos professores a importância da partilha. Juliet Stoltenkamp conseguiu convencer a professora Karen Wallace a partilhar o seu curso de química, este foi mais um passo no desenvolvimento dos materiais didácticos.
Existe um factor muito importante a ter em conta na partilha de materiais didácticos. Quando algum professor está a criar o seu próprio material não pode pensar que basta ele compreender o que lá está. Os professores têm tendência a criar os seus materiais apenas e exclusivamente para eles próprios, isto torna a partilha mais complicada. Todos os professores têm de perceber que ao criarem um recurso educativo aberto têm de considerar que outras pessoas têm de compreender o que lá esta. Por isso a estrutura e o conteúdo dos materiais têm de ser perceptivos para diferentes pessoas.
De forma a incentivar os professores das universidades do continente Africano, tal como a professora Karen Wallace, a utilizar os Recursos Educativos Abertos foi criado o OER África (post A new OER initiative in Africa). Ninguém pode perder o comboio nesta era do conhecimento, por isso todos temos que contribuir para que as grandes potencialidades dos Recursos Educativos Abertos contribuam para o desenvolvimento dos seus países, dando oportunidade aos mais pobres a uma aprendizagem justa e igual para todos.
A OER África é uma iniciativa recente e inovadora que tem como objectivo, desempenhar um papel de liderança na condução do desenvolvimento e da utilização de Recursos Educativos Abertos no ensino superior em todo o continente africano e estabelecer uma plataforma para a sua implementação a longo prazo. O grande potencial dos Recursos educativos abertos tem ganho cada vez mais destaque ao longo dos últimos anos. Em suma, o conceito de Recursos Educativos Abertos é o nome utilizado para descrever os recursos educativos que estão livremente disponíveis para a utilização por parte de educadores e educandos. Os Recursos Educativos Abertos são potencialmente poderosos por várias razões, incluindo: não têm restrições em relação às cópias dos recursos; contribuem para a adaptação de materiais que permitam aos alunos serem participantes activos em processos educativos, onde os alunos aprendem criando e fazendo, não apenas pela leitura e absorção passiva; permite aos educadores o acesso a baixo ou nenhum custo de materiais didácticos. O conceito dos Recursos Educativos Abertos foi elaborado com base no princípio de garantir o direito à educação para todos (como indicado na Declaração Universal dos Direitos do Homem). A importância de encontrar formas de expandir as oportunidades educacionais não pode ser subestimada. A Educação Aberta pretende pôr em prática políticas e práticas que permitam a entrada para a aprendizagem sem barreiras ou mínimos no que diz respeito à idade, sexo, falta de dinheiro, ou limitações de tempo e com o reconhecimento de aprendizagens anteriores. A OER África foi criada com a convicção de que os Recursos Educativos Abertos têm um poderoso papel, tal como já referi anteriormente, a desempenhar no desenvolvimento das instituições do ensino superior em toda a África.

Cada vez mais, estamos perante a exigência, por parte dos alunos, de uma melhoria das práticas pedagógicas e de conteúdos. Para que as instituições de ensino superior consigam dar resposta a estas exigências, tem de existir alguém que sensibilize as instituições de ensino superior para os benefícios dos Recursos Educativos Abertos (tal como aconteceu à Karen Wallace que foi incentivada a partilhar o seu material do curso de química), alguém que dê apoio colaborativo no desenvolvimento dos Recursos Educativos Abertos, que ensine os professores a adaptarem e implementarem o conceito dos Recursos Educativos Abertos dentro das universidades. Tudo isto porque as potencialidades dos Recursos Educativos Abertos vão permitir um aumento na qualidade dos materiais didácticos. Cada vez mais os professores universitários têm de estar conscientes das potencialidades que os Recursos Educativos Abertos podem oferecer aos seus alunos. Os professores universitários e alunos não podem ser apenas consumidores passivos, estes têm de participar activamente no processo dos Recursos Educativos Abertos.

A participação de todos irá contribuir para construção do ensino superior de um país, que desempenha um papel crítico na construção e manutenção de uma sociedade, da sua economia, produzindo o futuro de um país através de líderes intelectuais livres e abertos no desenvolvimento e na partilha comum de capital intelectual. O que acabo de dizer vem de encontro ao post, de Sarah Stewart. Não podia estar mais de acordo com ela. Sem dúvida que uma forma de desenvolver uma sociedade de forma sustentada é fazer com que todas as pessoas tenham acesso aos vários recursos educacionais e profissionais. Esta ideia vai de encontro aos objectivos iniciais na criação do projecto OER África. A partilha do conhecimento é feita de forma muito mais fácil se as instituições ou universidades não colocarem muros como forma de bloqueio aos recursos educativos. É fundamental que toda a informação educativa seja colocada de forma aberta para todos terem a possibilidade a uma aprendizagem ou conseguirem visualizar. Quando falo em informação educativa estou a falar de tudo aquilo que um professor utiliza para leccionar um curso. Gostei de visualizar o que pensam os professores da universidade de Otago Polytechnic sobre os Recursos Educativos Abertos (ao ver este vídeo recordei muito do que foi dito por todos nós na discussão da actividade 1). Esta Universidade já disponibiliza muitos dos seus recursos educativos e programas na Internet de forma aberta, na minha opinião estão de parabéns.

Referências:
Post 1: An everyday OCW story from South Africa
Post 2: A new OER initiative in Africa
Post 3: Sarah Stewart

6 comentários:

Teresa Fernandes disse...

Mónica,
O receio demonstrado pela professora Karen Wallace é bastante legítimo e comum a muitos outros professores e que é inerente ao próprio ser humano, o receio de partilhar do que é seu.
Mas também, como referes no teu post, muitos dos professores desconhecem as potencialidades dos Recursos Educativos Abertos e que a sua troca permitirá propagar o conhecimento.
Referes também as implicações económicas da utilização dos REAs em que o conhecimento poderá chegar a pessoas com menor disponibilidade económica e que a própria sociedade será “avaliada”, não pela sua riqueza, mas pela sua capacidade de gerar, partilhar, difundir e utilizar o conhecimento.

Eduarda disse...

Olá Mónica
O conhecimento começa a construir-se bem cedo...
Assim, penso que os REAs não devem apenas ser utilizados no ensino superior mas, em todos os níveis de ensino. Se pensarmos na baixa percentagem de jovens que em África frequentam o ensino superior, certamente acharemos que será importante permitir que muitos mais tenham acesso a ele. Uma forma de o consegui poderá passar por dar condições para que o façam e ao mesmo tempo estimular os alunos para o ensino. Os REAs poderão ser uma das ferramentas a utilizar para o conseguir. Relembro o exemplo do Livro do Alfabeto Animal, que referimos na página wiki (adapt) e que tem como objectivo ensinar o alfabeto às crianças com a ajuda de fotografias de animais.
Ainda relativamente a África, a Mónica tem razão quando refere a exorbitância dos preços dos livros. A título de exemplo posso relatar um episódio de um jovem Tanzaniano, que frequenta o equivalente ao nosso 9ºano e que, como não tinha dinheiro para comprar o livro de Química, passava todos os dia entre 1 a 2 horas na biblioteca da escola, para copiar na íntegra o referido livro, com esquemas e tudo.

thera's disse...

Bom dia Mónica...
Estive quase para pegar na " questão africana". Durante a minha pesquisa reparei que a Africa do Sul se adequava realmente a muitos dos objectivos protagonizados pelos REA e que assim se tornavam realidade. Na verdade, para certos países em vias de desenvolvimento os REa são " um maná". Desde que tenham instalações, computadores mesmo que obsoletos e uma ligação à Internet podem operar milagres. No meu blog tenho uma foto da Guiné que mostra o que é ou pode ser, uma universidade africana. Mas as dificuldades a que me referi não são nada porque podem perfeitamente ser colmatadas com vontade e " engenho".
Mas áfrica não é só a Africa do Sul; é também a guiné, onde normalmente nem há luz electrica na maior parte dos locais. Tive um colega guineense a tentar fazer uma pós graduação aqui na UA e não conseguiu pelos motivos que se podem adivinhar. Assim não há REA que valham...não sejamos utópicos....como às vezes somos

Teresa Rafael

José Carlos disse...

Olá Mónica,
Na realidade, um dos grandes entraves ao desenvolvimento neste grupo de países, é a fraca taxa de alfabetização. Deste modo, a possibilidade de acederem a REA a custo zero, é de extrema importância, para países com fortes debilidades financeiras.
Claro que não nos podemos esquecer, que as dificuldades que alguns destes países atravessam, muitas vezes remetem a questão do ensino para segundo plano, dificultando ainda mais o seu desenvolvimento.
A Carta Internacional dos Direitos Humanos, no seu artigo 26.º, refere que “Toda a pessoa tem direito à educação.” , mas a realidade é bem diferente.

Anónimo disse...

Olá Mónica!

O teu post lembra-me um pouco uma frase que o Rui Guimarães escreveu no post dele acerca da aproximação de culturas.

Os OER permitem que pessoas de países em que a abundância de recursos não é muita tenham acesso gratuito à educação, podendo aceder ao mesmo tipo de recursos que nós! África é um bom exemplo disso mesmo.

As questões económicas (muito referidas nos posts criados por nós nesto âmbito de MREL) são muito importantes para o crescimento na utilização dos OER.

Sarah Stewart disse...

Olá Monica

Muito obrigado por citar meu blog. Lamento, não posso entrar em um debate com você sobre educação aberta, mas minhas competências linguísticas são extremamente pobres.

melhores desejos Sarah

Hello Monica

Thank you very much for citing my blog post. I am sorry I cannot enter into a discussion with you about open education but my language skills are extremely poor.

best wishes Sarah